Campanha Alimentando a Esperança dá início à produção das 60 mil refeições a serem distribuídas para pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social
Teve início no mês de
setembro a produção das refeições por recuperandos das APACs envolvidas na
campanha Alimentando a Esperança – Paz, Justiça e Cidadania. Até meados de
dezembro, o projeto tem o desafio de produzir 60 mil refeições, que serão
doadas a pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social.
A iniciativa surgiu
dentro das APACs (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) e FBAC
(Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados), e conta com a parceria
da AVSI Brasil, por meio do projeto Más Allá de las Fronteras. A campanha conta
ainda com o apoio do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais e
financiamento da União Europeia. 13 APACs de Minas Gerais, Paraná e do Maranhão
estão envolvidas nesta iniciativa e 117 recuperandos e voluntários participarão
ativamente da produção e distribuição das 60 mil refeições.
Valorização das APACs
Além de buscar mitigar
os efeitos da Covid-19 em relação à segurança alimentar, a campanha tem o
objetivo de chamar a atenção para o trabalho realizado dentro das APACs. Luiz
Flávio Sapori, ex-secretário adjunto de Justiça e Segurança Pública de Minas
Gerais, destaca a importância de ações como esta para a recuperação dos
condenados. “A participação comunitária é fundamental para garantir o
cumprimento mais humanizado da pena. Os projetos realizados dentro das unidades
conseguem trazer a população para o lado da APAC, pois reduzem o sentimento de
medo e insegurança da população com relação à unidade prisional”, garante.
Segundo ele, essa
proximidade permite à população perceber que as APACs, apesar de unidades
prisionais, são instituições sociais e têm a capacidade de contribuir para o
bem-estar da coletividade. “Estas ações confirmam a vocação comunitária do
Método APAC. A APAC é uma conquista da sociedade, uma verdadeira instituição
social”, afirma.
Sapori destaca que o
método é calcado também no trabalho, um dos aspectos fundamentais em qualquer
processo de ressocialização. “O trabalho reduz a ociosidade do recuperando e,
ao mesmo tempo, propicia a internalização de valores sociais, como a
disciplina, o respeito pelo outro, empatia, cooperação. Isso permite que o
indivíduo experimente na prática a possibilidade de ser um cidadão.”
Por meio do Método
APAC, criado em 1972 pelo advogado e jornalista Mário Ottoboni, os recuperandos
são responsáveis pela cogestão, organização e até mesmo pela segurança e
disciplina dos centros de ressocialização. A eficácia pode ser comprovada pelos
números. Nas APACs, a taxa de reincidência é de 15% entre os recuperandos
homens e 5% entre as mulheres. No sistema penitenciário comum, esse número
salta para cerca de 80% no masculino e 15% no feminino.
O Brasil conta hoje
com 142 APACs, sendo 61 já em funcionamento e 81 em diferentes estágios de
implementação, com um total de 5030 recuperandos (de ambos os sexos, nos três
regimes: fechado, semiaberto e aberto) cumprindo pena de privação de liberdade.
Dessas 61, 9 são voltadas para o público feminino, 1 recebe recuperandos
juvenis e as 51 restantes são masculinas. Outros países como México, Paraguai,
Chile, Costa Rica, Argentina, Colômbia, Itália, Portugal, Alemanha, Holanda,
Letônia, Hungria, Bulgaria e Coreia do Sul aplicam parcialmente ou possuem
iniciativas de APAC.
O trabalho das APACs é
assessorado pela Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), que
é uma entidade civil de direito privado, sem fins lucrativos, que tem a missão de
orientar, assistir, fiscalizar e zelar pelo cumprimento da metodologia, modelo
de gestão e normas de disciplina e segurança das APACs, sendo filiada à Prison
Fellowship International - PFI, organização consultiva da ONU para assuntos
penitenciários, presente em 116 países.
Sobre a AVSI Brasil
Organização brasileira
sem fins lucrativos, a AVSI Brasil foi constituída em 2007 para contribuir na
melhoria das condições de vida de pessoas que vivem em situações de
vulnerabilidade. É vinculada ao contexto internacional por meio da parceria com
a Fundação AVSI, organização não governamental de origem italiana que atua no
Brasil desde os anos 1980 e que estimulou a criação da AVSI Brasil.
Para realizar seus
projetos, a entidade constrói parcerias com empresas, setor público,
organizações da cooperação internacional e pessoas físicas. A AVSI Brasil
desenvolve projetos beneficiando milhares de pessoas anualmente, em oito áreas
transversais: Água e Segurança Alimentar; Cidades Inclusivas e Resilientes;
Energia e Ambiente; Justiça e Prevenção da Violência; Migrações; Parcerias Multissetoriais;
Socioeducativo; Trabalho e Crescimento Econômico.
O projeto Más
Allá de las Fronteras
Desde novembro de
2017, a AVSI Brasil e FBAC iniciaram o projeto Más Allá de las Fronteras, que
tem como objetivo contribuir para o fortalecimento da sociedade civil no
combate a atos de tortura, maus-tratos, penas cruéis, desumanas e degradantes,
por meio da consolidação/expansão do método APAC em 3 países latino-americanos:
Chile, Costa Rica e Paraguai. O projeto é cofinanciado pela da União Europeia a
partir do Instrumento Europeu para a Democracia e dos Direitos Humanos (IEDDH).

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